om a inversão da pirâmide demográfica (consequência do aumento da esperança média de vida e da diminuição da taxa de natalidade), o sistema de segurança social é precário. Por isso, é importante que os portugueses adotem, o mais cedo possível, hábitos de poupança e investimento, por forma a complementarem a sua reforma.
Um dos instrumentos mais utilizados para este efeito é o Plano Poupança Reforma, ou PPR, muito por causa da sua versatilidade - adapta-se tanto a pessoas com um perfil de investimento mais conservador como a pessoas com um perfil mais arriscado -, mas também por causa dos benefícios fiscais que lhe estão associados.
Contudo, antes de subscrever qualquer instrumento de poupança e investimento, mais do que seguir a tendência e fazer o que todos fazem, é importante conhecer bem o instrumento e esclarecer todas as dúvidas sobre o mesmo. Assim, depois de verificar o que é importante saber sobre os PPR, é preciso consultar quais as opções disponíveis no mercado e fazer uma avaliação criteriosa, segundo alguns aspetos importantes.
Neste artigo, explicamos quais os principais fatores a ter em conta quando se escolhe um PPR.
Objetivo
Como acontece para qualquer instrumento de poupança e investimento, é preciso definir um objetivo. Qual a finalidade de subscrever um PPR? Trata-se de um objetivo de longo ou médio prazo? Qual o montante a investir e qual o montante dos reforços? Com que frequência serão feitos os reforços?
Seja para usufruir do benefício fiscal de entrada (ou saída), seja para um objetivo concreto de compra (de uma formação, um carro ou uma habitação), é importante pensar e definir o objetivo do PPR. Com a finalidade em mente, torna-se mais fácil fazer a escolha acertada.
Limites mínimos e máximos de investimento
Os Planos Poupança Reforma têm limites mínimos de investimento, que são muito variáveis. De igual forma, existem PPR com limites máximos de investimento, também variáveis.
Dependendo do valor disponível para a constituição do PPR e para os reforços subsequentes e do objetivo do investidor, alguns PPR ficam, assim, fora do leque de opções.
Perfil de investidor e risco do PPR
Existem instrumentos de investimento para todo o tipo de investidores. Para fazer a escolha acertada é preciso, primeiro, conhecer o perfil do investidor e, depois, verificar quais os instrumentos que estão de acordo com ele.
As crenças e experiências influenciam o perfil de investidor de cada pessoa, que é caracterizado pela sua tolerância ao risco e pelo quão confortável está com a possibilidade de perder o dinheiro investido. De acordo com o portal do Plano Nacional de Formação Financeira (PNFF), os investidores enquadram-se num destes quatro perfis: conservador ou prudente, equilibrado ou moderado, dinâmico e arrojado. Os investidores com perfil conservador ou equilibrado procuram instrumentos com garantia de capital, ao passo que os investidores com um perfil dinâmico ou arrojado estão disponíveis (e confortáveis) em perder parte ou a totalidade do capital investido.
Quanto ao instrumento em si, existem diferentes tipos de PPR, como vimos neste artigo. Os seguros PPR têm capital garantido, ao passo que os fundos PPR não têm garantia de capital. Estes últimos têm o seu nível de risco representado por um valor numérico, que varia entre 1 e 7, em que o valor 1 corresponde a um baixo risco e o nível 7 corresponde a um alto risco.
Uma vez feita a análise do perfil do investidor e do risco dos instrumentos disponíveis, basta cruzar a informação e ver qual a melhor opção. Um investidor moderado optará, provavelmente, por um seguro PPR, ao passo que um investidor arrojado poderá facilmente optar por um fundo PPR de risco 7.
Idade do aforrador
A idade em que se subscreve um PPR é importante já que, dependendo do tempo de “vida ativa” ainda disponível, há menor ou maior capacidade de recuperar eventuais perdas de capital.
De forma prática, para investidores mais jovens, o investimento em instrumentos de risco mais elevado é mais “confortável” já que, na eventualidade de haver perda de capital, existe ainda margem para voltar a fazer investimentos que possam anular essa perda. No caso de um investidor mais perto da idade da reforma, será mais prudente investir em instrumentos mais seguros, uma vez que não há tempo suficiente para corrigir eventuais perdas.
Apesar de este ser um conselho comummente partilhado, cabe ao investidor decidir o que é melhor para si e o que está de acordo com o objetivo que definiu.
Composição dos ativos e rentabilidade
Os seguros PPR são geridos por seguradoras e os fundos PPR são geridos por sociedades gestoras de fundos de investimento. Quando um investidor subscreve um PPR está, assim, a delegar a gestão de parte do seu património a terceiros, pelo que é importante manter-se a par da atualidade relativamente à seguradora ou entidade gestora.
A composição da carteira de investimentos é outro ponto muito importante a considerar. Apesar de impactar diretamente o risco do PPR, fator já referido, os ativos da carteira merecem atenção redobrada. O património de um PPR pode ser composto por obrigações (de dívida pública ou entidades privadas), ações e unidades de participação em fundos de investimento, entre outros, que fazem com que o PPR tenha um risco e uma rentabilidade mais ou menos elevados.
Além de conhecer os valores nos quais o fundo está investido, é interessante saber as áreas ou setores de investimento. No caso de um investidor estar em dúvida entre dois fundos PPR, com o mesmo valor de participação em ações, o setor de atividade das empresas (energético, tecnológico, bens de consumo, etc.) pode ser o fator decisivo, já que, de acordo com a conjuntura, pode impactar a rentabilidade do fundo.
Quanto à rentabilidade, apesar de as rentabilidades passadas não serem garantia de rentabilidades futuras, é importante verificar o desempenho do PPR nos últimos anos, tendo sempre em consideração a situação socioeconómica a cada momento, que pode justificar os resultados positivos ou negativos. Além da conjuntura, a entidade responsável pela gestão do PPR também impacta o desempenho do mesmo, pelo que, ainda que não seja determinante, é importante ter em conta a rentabilidade passada de um PPR aquando da escolha deste instrumento de investimento.
Comissões e custos associados
Tão importante quanto verificar a rentabilidade passada do PPR e os potenciais ganhos é saber quais as comissões e os custos associados. Por vezes, as comissões associadas podem anular os possíveis ganhos, pelo que é preciso ter atenção a este ponto no momento de escolher um PPR.
As comissões gestoras de PPR podem cobrar comissões de subscrição, depósito, gestão e reembolso.
A comissão de subscrição incide sobre o montante inicial investido e todos os reforços feitos. No caso de um PPR com uma comissão de subscrição de 1%, se o montante inicial disponível for de 1.000€, 10€ serão imediatamente deduzidos e o valor inicial investido será de 990€.
A comissão de depósito é usada para remunerar a entidade depositária dos títulos e está refletida no valor da unidade de participação, pelo que a rentabilidade apresentada é líquida deste valor.
A comissão de gestão é descontada da rentabilidade do PPR e serve para pagar os serviços da entidade gestora. Tal como acontece para a comissão de depósito, também a comissão de gestão está, normalmente, refletida no valor da unidade de participação do PPR.
A comissão de resgate ou reembolso é uma taxa paga à corretora ou instituição financeira, que incide sobre o valor resgatado (investido ou não, dependendo das condições contratuais do PPR).
É possível transferir o dinheiro de um PPR para outro. Um fundo PPR pode ser transferido para outro fundo PPR ou para um seguro PPR sem custos. No caso dos seguros PPR, pode ser cobrada uma comissão de transferência de até 0,5% sobre o valor transferido.
Depois de avaliar todos estes pontos, o número de opções adaptadas a cada investidor fica mais reduzido, o que torna a tarefa de escolher um PPR e começar a preparar o futuro bastante mais simples.