escritório entrou para dentro de casa das pessoas. Em alguns casos vai mesmo com as pessoas para onde quer que elas vão. Deixou de ser um lugar físico e ocupa agora um lugar mental. Mas, e a cultura organizacional? Será que esta fica restringida às quatro paredes do local de trabalho, ou passa a ocupar, tal como o escritório, um lugar algures na mente de cada um?
“É preciso respeitar, cuidar e confiar. Se as pessoas nos dão essa confiança, temos de retribuir”, começa por dizer Anabela Chastre, CEO da Chastre Consulting. Nutrir é, para a especialista em formação e coaching para líderes, crucial para criar e manter a cultura empresarial à distância. “É esse cuidado que vai ficar como algo positivo na cabeça dos colaboradores. Às vezes, até mais do que uma recompensa física, uma palavra amiga ou uma conversa sincera para perceber como podemos ajudar aquele colaborador que tem um familiar doente fazem toda a diferença”, afirma.
É através desta presença, proximidade e atenção às necessidades dos colaboradores que as empresas conseguem manter e transmitir os seus valores, mesmo num cenário de trabalho remoto. A cultura empresarial deve existir muito mais do que num espaço físico, refletindo-se, sim, na forma de ser e agir da empresa, defende Anabela Chastre, citada pela Pessoas by ECO.
Mas, num contexto remoto, como criar essa “cola” organizacional que une as pessoas à empresa? Partilhar a história, estar presente, ouvir e confiar nas pessoas e proporcionar momentos e experiências diferentes e valiosas são algumas das formas de criar e manter a cultura organizacional.
1. Conta a história da empresa
Começa por contar a história da empresa. Certifica-te que todos os colaboradores sabem como começou o projeto, de onde partiu a ideia, como foi no início, quais as dificuldades ao longo do percurso… Saber toda a história vai fazer com que as pessoas se identifiquem mais facilmente com ela, e que sintam que, ainda que possam não ter estado presentes desde o início, conhecem bem todo o caminho até ao momento em que ingressaram na companhia.
As histórias unem as pessoas, por isso, é importante partilhar com cada colaborador a missão, a visão e o propósito da organização. Essa história deve ser conhecida pela empresa como um todo.
2. Garante presença, proximidade e atenção
Apesar de fisicamente distantes, é crucial que os colaboradores sintam que a liderança é muito presente e próxima. Gestores e líderes têm de estar atentos às necessidades das suas pessoas, de modo a prevenir e evitar possíveis situações de ansiedade e burnout, desmotivação ou algum tipo de incómodo.
A Leroy Merlin, por exemplo, enquanto esteve em teletrabalho, criou linhas de atendimento telefónico para aconselhamento psicológico e enfermagem. A Repsol organizou um webinar sobre o sono, onde deu a oportunidade aos colaboradores de esclarecerem dúvidas e tabus sobre o tema. A Ikea desenvolveu o programa “CÖNTIGO” para apoiar financeiramente quem estava a passar por situações excecionais que não estavam cobertas pelo sistema público, seja saúde, educação ou habitação. A par deste programa, a empresa sueca criou também a iniciativa “Bons Vizinhos”, que promoveu o apoio mútuo entre colegas, ajudando nas compras ou noutras tarefas que se tornaram difíceis de cumprir quando alguém está, por exemplo, em isolamento. Já o grupo Ageas Portugal levou atividades desportivas, sessões terapêuticas de mindfulness e workshops sobre hábitos saudáveis para dentro de casa dos trabalhadores. Todo este tipo de iniciativas, que visam promover o bem-estar e a qualidade de vida dos colaboradores, tornam-se ainda mais fundamentais quando se trabalha à distância.
3. Ouve (ativamente) as tuas pessoas
Igualmente importante para construir um sentido de pertença é a escuta ativa. Ouvir os colaboradores é dar-lhes espaço e abertura para darem ideias, contribuírem e aportarem valor e serem, também eles, líderes na organização. Organizar conferências sobre liderança, agendar reuniões de equipa, mas também one-on-one de forma regular são algumas formas de garantir que todas as vozes da empresa são ouvidas.
Mas há organizações que vão mais longe. Para incluir os colaboradores nas decisões da empresa, a Bee Engineering criou uma aplicação – a Bee Genius – onde as pessoas podem contribuir com as ideias que desejariam ver implementadas na sua companhia, bem como votar nas sugestões propostas pelos seus colegas. Para isso basta, fazer swipe. “Os colaboradores estão no centro dos ecossistemas das empresas e, como tal, as suas sugestões devem ser tidas em consideração. O Bee Genius garante um sistema democrático de decisão, uma vez que todos os elementos têm a oportunidade de propor ideias e votar naquelas que consideram ser as mais pertinentes”, esclarece José Leal e Silva, diretor executivo da Bee Engineering.
4. Confia e comunica com transparência
Os relacionamentos entre as pessoas devem ser baseados na confiança. E a confiança não depende única e exclusivamente da proximidade e da localização geográfica. “Há centenas de empresas que já trabalhavam à distância em todo o mundo antes da pandemia e não há registo de não terem uma cultura empresarial. Pelo contrário, por serem remotas são uma referência nesse sentido”, diz Henrique Paranhos, fundador da WEBrand Agency, que, tal como a Coverflex, começou de forma totalmente remota.
O único segredo aplicável a todas as empresas que querem assegurar uma cultura organizacional à distância é, defende Henrique Paranhos, aprender a confiar, a ser transparente e a comunicar muito, dando feedback e gerindo as expectativas das chefias, dos colegas e dos colaboradores. “E isto não significa estar o tempo todo a reunir por tudo e por nada”, alerta.
5. Proporciona novas experiências
Para proporcionar às pessoas novas experiências de trabalho, considera estabelecer parcerias com espaços de coworking, por exemplo. Desta forma, os colaboradores poderiam utilizar esses espaços em determinados dias da semana e, assim, variar de local habitual de trabalho.
E, para desenvolverem determinado projeto, podes optar por proporcionar um par de dias ou uma semana, consoante as necessidades, numa espécie de retiro que fomenta a criatividade, mas também o espírito de equipa e colaboração. A Cerdeira - Home for Creativity é uma das empresas que organiza estes retiros para companhias que pretendam desligar do ritmo acelerado do dia a dia, dos ecrãs e da chuva de notificações, e conectar-se com a natureza e com as pessoas; ou que queiram juntar a equipa para trabalhar num novo projeto. Ao longo do retiro, os profissionais podem ainda fazer uma série de experiências criativas, como construir casas de xisto em miniatura, fazer taças e copos em cerâmica, fazer figurado em cerâmica, fazer brinquedos em madeira ou até aprender a cozinhar a chanfana, o prato mais famoso da região.