os últimos anos, o mercado de trabalho sofreu alterações estruturantes. As empresas têm, agora, uma oportunidade única de apoiar os seus colaboradores através de um leque de opções grandioso, e que inclui desde trabalho remoto, modelos híbridos e flexibilidade de horário a benefícios de bem-estar e saúde mental, stock options ou budgets para apoiar determinados custos. No fundo, é de flexibilidade de falamos, seja geográfica, horária, de compensação ou até de pagamento.
Mas, afinal, qual é o verdadeiro retorno sobre o investimento (“Return On Investment” - ROI, na sigla inglesa) da flexibilidade?
“Qualquer organização que ofereça benefícios aos seus colaboradores está perfeitamente ciente do orçamento que está em jogo. É imperativo que os líderes de RH compreendam se esses recursos produzem os resultados pretendidos - tanto em termos de valor acrescentado para os colaboradores como para a própria organização”, lê-se no relatório “The ROI of Flexible Benefits”, disponível aqui, realizado pela Forma Research.
Sobretudo dado o atual contexto económico, “as empresas têm de prestar mais atenção do que nunca ao destino dado aos seus orçamentos de benefícios". Mas a empresa garante que a flexibilidade compensa: “Existe um claro retorno do investimento quando se oferece aos colaboradores a possibilidade de escolherem os benefícios que mais lhes interessam. Esta escolha proporciona uma percepção de valor adicional ao programa global de benefícios que é mais rentável do que investir mais recursos noutros programas já estabelecidos".
Em primeiro lugar, importa recordar que, até há bem pouco tempo – e ainda em algumas organizações –, as empresas recorriam a benefícios estanques e uniformes para toda a força de trabalho, na tentativa de satisfazer as necessidades individuais dos colaboradores. Já todos percebemos que ‘one size doesn’t fit all’ e, por isso, é muito improvável que com benefícios standard se agrade a todos os profissionais. É aqui que entra uma das principais vantagens de investir na flexibilidade.
Aumento da produtividade
Com benefícios flexíveis, as empresas conseguem oferecer aos seus trabalhadores uma maior variedade de opções e colocam nos mesmos a responsabilidade de escolher os benefícios que fazem mais sentido para eles e para o momento que atravessam nas suas vidas. A personalização vai tornar a proposta de valor da empresa bem mais atrativa, assim como deixar os colaboradores mais satisfeitos, de uma maneira geral. E satisfação traduz-se quase sempre em maior compromisso e, por sua vez, em melhoria da produtividade. Já estás a ver onde queremos chegar?
Vários estudos sugerem que os trabalhadores que têm a liberdade de trabalhar a partir de onde desejam são mais produtivos. Exemplos destes modelos de trabalho flexíveis são os regimes full remote, remote friendly, e híbridos (desde que com flexibilidade). Estes trabalhadores experienciam um melhor equilíbrio entre a esfera profissional e a esfera pessoal, e cada hora que passam a trabalhar conta. É muito mais provável que estejam realmente concentrados enquanto trabalham. E, claro, também são, por norma, mais felizes.
De acordo com um inquérito recente realizado pelo International Workplace Group (IWG), a 1.800 profissionais de vários setores, e que abrangeu um total de 96 países, 91% dos gestores afirma que o espaço de trabalho flexível permite que os funcionários da sua empresa sejam mais produtivos. Além disso, 89% acredita que o trabalho flexível ajuda a sua empresa a crescer, 87% pensa que reforça a competitividade, e 83% acredita que ajuda também a maximizar os lucros.
Maior capacidade de atração
Outro ponto que consegue explicar também o ROI da flexibilidade tem a ver com a capacidade de atração e fidelização do talento. Num momento em que vários setores se deparam com escassez de mão de obra, em que a competição pelos melhores profissionais é muito elevada – até porque, com o trabalho remoto, as empresas passaram a competir pelo talento numa espécie de ‘aldeia global’ – aumentar a capacidade de atração é fundamental. Quem não oferece flexibilidade está fora do jogo.
Os elementos mais tradicionais e mais óbvios da Employee Value Proposition (EVP) incluem remuneração, benefícios e desenvolvimento de carreira. Mas tendências globais como a flexibilidade, o propósito ou a sustentabilidade são complementos que emergem rapidamente como um “dado adquirido”. Uma série de estudos mostra que, embora a remuneração e os benefícios sejam importantes, os colaboradores querem agora empregos que “permitam flexibilidade, equilíbrio entre a esfera profissional e a esfera pessoal, e [seguir] o estilo de vida que escolheram”, refere a consultora Mercer. “O que os trabalhadores querem agora é um ‘contrato de estilo de vida’".
…e de fidelização de talento
Mas não é só de captar os melhores talentos que se trata. É igualmente importante fidelizá-los. De acordo com o inquérito já mencionado da IWG, 80% dos gestores considera que permitir que os seus trabalhadores trabalhassem a partir de qualquer lugar contribuiu para a atração e fidelização dos melhores talentos. Além disso, 58% admite que essa flexibilidade geográfica melhorou o grau de satisfação profissional dos seus trabalhadores; e 30% diz ainda que ajudou a tornar os colaboradores mais leais.
A rotatividade constante de colaboradores, para além de representar custos para a empresa, pode afetar o bom funcionamento de uma equipa. Compensação e horários de trabalho mais flexíveis podem também influenciar positivamente os níveis de compromisso que os colaboradores têm para com a empresa.
Redução de custos
A flexibilidade pode ainda contribuir fortemente para a redução de custos da empresa. Mais de 80% dos inquiridos abrangidos pelo estudo da IWG afirmaram acreditar que os espaços flexíveis ajudam as empresas a poupar dinheiro, contribuindo para a redução dos custos de gestão imobiliária (como a compra de um imóvel, a administração, a adaptação, os custos de manutenção, etc.).
A compensação flexível e personalizada também pode ajudar neste campo. Apostar numa política de benefícios flexíveis significa otimização fiscal, podendo a empresa dar mais aos seus colaboradores enquanto gasta menos.
Melhoria da saúde mental
Vários estudos e especialistas alertam também para as vantagens que a flexibilidade pode trazer ao nível do bem-estar dos trabalhadores. De que forma é que isso pode contribuir também para o ROI da flexibilidade? Ora, os problemas relacionados com stress e saúde mental dos trabalhadores resultam em absentismo, presentismo e quebras de produtividade. Estão a custar às empresas portuguesas até 5,3 mil milhões de euros por ano, uma subida face aos 3,2 mil milhões estimados no em 2022, aponta o II Relatório “Custo do Stresse e dos Problemas de Saúde Psicológica no Trabalho”, da Ordem dos Psicólogos Portugueses.
Os custos representam já um valor equivalente ao que o Governo gastou em 2021 em medidas para mitigar os impactos da pandemia, por exemplo. Apostar em saúde mental nas empresas pode reduzir as perdas em, pelo menos, 30%, e aconselha-se que o fator flexibilidade faça parte desta equação.